Deletrista, caro leitor e leitora. Que jogo! Há um bom tempo não se via uma apresentação da Seleção como hoje. Habilidade, maturidade e velocidade aliado à saudosa ginga brasileira. Se hoje o Pará vive a dúvida da divisão territorial, o Mangueirão, ironicamente, conseguiu unir os brasileiros para, mais uma vez, assistirem ao jogo. Desta vez, o compromisso valeu a pena.

Em plena segunda-feira, dia 26, o público dava uma prévia do que seria o assédio em torno dos escolhidos. 25 mil pessoas assistiram ao treino, em Belém. Hoje, 43 mil assistiram ao show. Uma apresentação de Lucas, Neymar, Cortês, Ronaldinho, Jefferson e porque não, lembrar de Montillo?!

Mano escalou o time como previsto: Jefferson – Danilo – Dedé – Réver – Bruno Cortês – Ralf – Rômulo – Ronaldinho – Lucas – Neymar - e Borges. Do lado argentino, caras conhecidas como Guiñazu, Sebá e Montillo.

Logo no início da partida, as mudanças de Mano davam mostras de que resultariam em uma exibição melhor que a anterior. A criação ofensiva ficou por conta de Lucas, com o apoio de Rômulo na saída de bola, e Neymar e Ronaldinho buscando o jogo no ataque. Na defesa, a consolidação da dupla Dedé e Rever e a inovação com Cortês e Danilo. Deu certo.

O estreante do São Paulo vestiu a camisa da Seleção. Literalmente, três vezes. Depois de lampejos de craque, Lucas foi acertado (com ou sem intenção?!) por um tapa no rosto, aos 19 minutos. O jovem sangrou e saiu para trocar a camisa.

Com a canarinho limpa novamente, a dupla formada no Sub-20, Neymar e Lucas, ensaiava o que seria o resto do jogo. Aos 28, uma bela arrancada do santista de moicano, com direito ao drible da vaca, arranca também aplausos do cativante público do estádio.

Enquanto isso nossos hermanos faziam o jogo deles. Em “território inimigo”, acuaram e chamaram o jogo. Mais conhecido como tiro no próprio pé. Guiñazu desarmava o que podia em campo e Montillo rasgava o meio em busca de um passe que desse chances à Argentina. Mas quem mandava em campo era o Brasil.

Aos 33 min., novamente o problema com a camisa de Lucas. Mais uma vez o garoto sai de campo e volta com um novo uniforme. A cada volta, Lucas parecia que buscava mais o jogo. Os ataques tornaram-se mais freqüentes, com o apoio essencial e brilhante de Bruno Cortês, pela esquerda.

Cinco minutos depois, a primeira chance clara de gol. Lucas arranca pelo meio, em diagonal. Dribla três argentinos, toca para Borges, que inteligentemente, cruza para Neymar. O atacante, embaixo da trave e sem goleiro, fura a bola. Ansiedade de pai.

Aos 46, o uruguaio Jorge Larrionda expele o ar dos pulmões para avisar o fim do primeiro tempo. 46 que valem mais do que os 90 jogados partida passada. E 46 minutos em que Borges não finalizou sequer uma vez ao gol. O artilheiro do Brasileirão apareceu poucas – mas eficientes – vezes ao ataque.

O segundo tempo começa com o Brasil novamente buscando o gol. E nem foi preciso de muito tempo para encontrá-lo. Em uma aula de contra-ataque, Lucas marca o primeiro da partida, aos 8 minutos. Primeiro gol dos 180 minutos, e primeiro gol dele com a camisa da Seleção principal. Desentalando o grito da garganta.

A jogada se desenhou após um escanteio da Argentina. A bola sobrou na entrada da área brasileira para Cortês, o jovem arrancou pelo meio e tocou para Borges. O santista fez o pivô, girou e achou Danilo recuado. O lateral, em jogada digna de Gérson (da Seleção de 70, Jornalismo UFMS), lançou Lucas. O são-paulino arrancou, deixando pra trás o marcador. Tinha Neymar livre na direita, mas preferiu chutar pro gol. Fez bem, um a zero.

O baque foi forte para nossos amigos do tango. Tão forte que parecem perdidos em campo. Tentam segurar Lucas, Neymar e Ronaldinho de qualquer jeito. Até arrancando o número da camisa. Aos 12 minutos, Guiñazu se cansa de tentar segurar o nº 11 (Neymar) e arranca o algarismo 1 da camisa do jovem. E lá vamos nós fazer mais uma troca de camisa.

O jogo se reduz um divertido pega-pega de gato e rato. A molecada brasileira, incluindo o eterno moleque Ronaldinho, brinca de driblar e de serem perseguidos em campo. Enquanto somente Montillo, o rato cruzeirense, mostra serviço do outro lado.

Com a posse de bola e o jogo sob controle, Mano coloca Diego Souza no lugar de Lucas, aos 23 min. O jovem sai aplaudido. O substituto também fazia sua estréia pela Seleção. Mal havia entrado, Diego Souza já dá sinais de que realmente atravessa boa fase.

Seis minutos após a substituição, novamente ele, Cortês, arranca pelo meio. A marcação argentina prioriza os perigosos Ronaldinho, Neymar e Borges, esquecendo Diego Souza. O meia recebe o passe e de primeira toca para Neymar na pequena área. O atacante erra o chute, mas não erra o gol. A bola bate no zagueiro e morre mansinha no fundo da meta. Dois a zero. Sacramentado.

Daí pra frente, foram só gritos de “Olé” e “É campeão”. A firula de Neymar, com a maestria do antigo Ronaldinho, conduz o Brasil em campo. A Argentina tenta uma infiltração, mas Ralf não dá sinais de cansaço e toda vez que aparece uma oportunidade e Jefferson se manifesta no gol. Aos 46, Larrionda decreta o Brasil como campeão do Superclássico das Américas. 12 quilos de troféu erguido sob as cabeças sorridentes do Brasil.

Hoje, todos dormem sorrindo. Dormem sorrindo Lucas e Bruno Cortês, que arrebentaram em suas estréias. Dorme sorrindo Neymar, por ter feito o primeiro gol desde o nascimento de seu filho, há um mês. Dorme sorrindo o torcedor brasileiro, por acreditar em uma renovação, há tanto desejada na Seleção. E dorme sorrindo Mano Menezes, não pela afirmação do cargo, e sim pela certeza de que o Brasil finalmente está tomando, e retomando, a cara de canarinho.



João Conrado Kneipp

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