O sonho de muitas crianças carentes de ser jogador de futebol é alimentado há 14 anos pelo projeto Atleta do Futuro em Campo Grande. Cerca de 7 mil crianças praticam 15 modalidades olímpicas em 80 bairros da cidade. O investimento anual do projeto é pequeno, se considerarmos que R$ 700 mil divididos para todas as modalidades dão em média R$ 46.500,00 para cada uma por ano. São aproximadamente R$ 4.500 mensal para cada modalidade. No caso do futebol, modalidade mais praticada no projeto, com aproximadamente 3.500 alunos e 30 escolinhas, basta visitar os locais de treinamento para constatar a falta de estrutura.

A começar pelas condições dos campos. A maioria deles não recebe manutenção freqüente da prefeitura, mas ainda assim, já é alguma coisa. É um espaço gratuito cedido pela prefeitura para a prática de esporte. Além disso, as escolinhas necessitam de materiais esportivos, como bolas de futebol, coletes, cones, redes para o gol. O ideal seria que esses materiais fossem entregues pelo menos quatro vezes ao ano. Mas em alguns casos, isso não acontece nem a cada ano.

Outro problema é o salário dos professores. Trabalhando três vezes por semana, de manhã e a tarde, o valor mensal pago aos monitores é de R$300,00. Ou seja, os professores estão mais para voluntários do que para técnicos. Mas apesar das falhas no projeto, o benefício na formação social da criança é inquestionável. Isso é resultado do trabalho desses professores, que deixam em segundo plano o reconhecimento financeiro para priorizar a satisfação profissional que o projeto lhes proporciona. Anualmente, palestras e cursos são oferecidos gratuitamente para esses monitores. De certa forma, é uma contribuição profissional dos professores, que estão sempre em aprendizagem.


Criança não se importa de jogar em campo cheio de barro, ou com bolas ruins e coletes velhos. Criança gosta de brincar, de correr, de fazer amizades. Apaixonados pelo esporte, como esses professores, se realizam ao ver que jovens estão ocupando seu tempo livre com prática saudável do esporte, ao invés de estarem nas ruas, com más companhias. Para esses mestres, não é preciso graduação superior em Educação Física para saber lidar com criança rebelde. Não é preciso salário alto para ensinar aos alunos noções de cidadania, solidariedade, amor ao próximo, disciplina e respeito ao superior. Só de pensar que de cem alunos, se um se tornar jogador de futebol profissional, sua missão estará cumprida e será perpetuada, vale a pena o malabarismo de viver do projeto.

Quem sabe um desses alunos se torne famoso, alcance estabilidade financeira e status social, e se lembre que tudo começou em um projeto onde a determinação e iniciativa dos professores fizeram a diferença. E talvez assim, resolva devolver o que aprendeu, investindo em projetos semelhantes, para dar oportunidade a outras crianças; de ser atleta profissional ou simplesmente uma criança melhor, longe da violência e das drogas; que respeite o convívio social e saiba reconhecer um ato de amor e solidariedade.

Não basta ser professor, tem que se esforçar!

Gabriela Pavão

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