Não posso ser o mais bonito na opinião de poucos, mas sou o mais popular na opinião de muitos. Sou uma linda donzela que desfila pelos campos afora com classe e garbosidade. E, mesmo distribuindo bolas fora e chutes no vácuo, andarei sempre como se fosse nobre, no salto alto.
Não sou nenhuma modelo anoréxica, mas um zero a zero magro me deixa com fome de gols. Alimento-me de muitos sonhos. Mas apenas poucos ficam com a barriga cheia. Mesmo assim, a fonte que me nutre não para de crescer: com mais fome e mais sede ao pote. Às vezes de ouro, outras vezes, vazio. Talvez seja isso o que me tempera: as múltiplas possibilidades.

As múltiplas possibilidades. Que vão desde a vitória na vida, ou a derrota. Isto se você não ficar no empate. Está certo que empate bom é apenas o um a um. Desta maneira, não deixo a bola pingar, pego de primeira e chuto ao gol. Se for pra fora, lá vêm dizeres que esse futebol é ruim. A culpa não é minha, não sou eu que formo jogadores medíocres. Se for para dentro, pode ficar atento, vão vim muito puxa saco, dizendo que sou lindo e tudo mais. É verdade, sou lindo, mas humilde.

Tenho que ser humilde. Cresço cada dia da minha vida nos campos de várzea, se onde me praticam pode ser chamado de campo. Berço de muitos craques e cemitério de muitas ilusões. Está certo que é onde sinto o amor verdadeiro. Sinto raça, energia, disposição. E, tudo isso apenas por paixão a mim, sem remuneração. Paixão às vezes não retribuída. Não posso estar no pé de qualquer um. Por incrível que pareça, não sou fácil, sou difícil.


Sou caso de amor e ódio. Briga de marido e mulher; de torcidas adversárias; de sentimentos; de dúvida. Sou da paz e amor, odeio violência, mesmo quando é gratuita. De graça só mesmo um canetinha por debaixo das pernas: é de graça e não precisa devolver.

Sou assim, sou razão e emoções. E, não existe emoção maior que gritar é campeão.

Sou futebol. Essa é minha vida, esse é meu clube.



Daniel Lacraia



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