Acabou o sofrimento do torcedor do Santa Cruz. Após o empate sem gols contra o Treze-PB , no último domingo, no estádio Arruda (com mais de 60 mil tricolores), a equipe pernambucana garantiu a classificação à semifinais do Campeonato Brasileiro da Série D. Mas o jogo tinha status de final, pois o time qualificado garantia o acesso a Série C.

A campanha foi sofrida para o Coral. Na primeira fase, passou em segundo, garantindo a vaga apenas na última rodada (Santa Cruz-RN foi o primeiro colocado do Grupo 3, já o Santinha ficou com a outra vaga, eliminando Guarani-CE, Alecrim-RN e Porto-PE). No primeiro mata-mata, um suado 1 a 0 contra o Coruripe-AL foi o suficiente, já que a equipe do técnico Zé Teodoro (ex-jogador do São Paulo) conseguiu aguentar a pressão no jogo de volta e empatou em 0 a 0.

Mas o maior drama para o sofrido torcedor tricolor aconteceu na decisão das quartas-de-final. No jogo de ida, em Campina Grande-PB, o Treze vencia por 3 a 1 até os 15 minutos do segundo tempo. O desconhecido e reserva Fernando Gaúcho entrou em campo, marcou dois gols, empatou o jogo e recolocou o Tricolor na briga.

No jogo da consagração, adivinha? Mais sufoco! Com 59.966 pagantes (certamente mais de 60 mil presentes) no Mundão do Arruda, a festa estava preparada. Mas faltou combinar com o Treze, que, mesmo com dois jogadores a menos em boa parte do segundo tempo, pressionou o time da casa e quase calou a apaixonada torcida vermelho-preto-branco.


TEMPORADA PERFEITA

O ano de 2011 marca a mudança de direção do “elevador tricolor”. O Santa Cruz vinha em queda livre desde 2006, ano de sua última participação na Série A. De lá pra cá, foram três descensos seguidos, até o impiedoso rebaixamento para a Série D em 2008. Nos dois anos seguintes, vexames na Quarta Divisão. Em 2009, eliminação na primeira fase. No ano seguinte, derrota nas oitavas.

Porém, em 2011, o caminho das vitórias voltou ao Arruda. Os comandados de Zé Teodoro conquistaram o Campeonato Pernambucano (fato que não ocorria desde 2005) em cima do rival Sport, que hoje disputa a Série B, assim como Náutico e Salgueiro. Na Copa do Brasil, uma surpreendente vitória sobre o poderoso São Paulo por 1 a 0 é comentada até hoje nas ruas de Recife (o Tricolor Paulista reverteu o resultado em Barueri e avançou).

E a própria Série D não terminou. O principal objetivo fora conquistado, mas a comissão técnica garante que o clube lutará pelo título. Nas semifinais, o Coral enfrenta o Cuiabá-MT. Um título nacional seria inédito ao clube de Recife.

O TIME DE “SEGUNDA”

Muito se falou entre os torcedores do Tricolor, após a conquista estadual, que o Santa não teria dificuldades para subir à Série C, pois o time era muito bom. Realmente... era. Com a campanha vitoriosa no Pernambucano, as principais peças do time foram negociadas.

O artilheiro Gilberto foi alvo de leilão entre Corinthians e Internacional. Melhor para o clube gaúcho, que levou o atacante, hoje reserva de Leandro Damião, do possante Jô e do mito Siloé. O zagueiro e capitão Thiago Matias, então ídolo da torcida, foi “chutado” pelas portas dos fundos pelos torcedores após aceitar a proposta do Ceará. O xodó virou mercenário para os adeptos.

Além da dupla, Zé Teodoro perdeu, por grande parte da Série D, o seu melhor jogador: o me
ia-lateral Renatinho, baixinho de 1,56 m, que chegou a ser cotado por Ney Franco para disputar o Mundial Sub-20 com a Seleção Brasileira.

Com as perdas, a diretoria tricolor não parou de contratar. Toda segunda-feira tinha uma nova contratação dando entrevistas no Arruda. Fernando Gaúcho, Ludemar, Eduardo Arroz, Bismarck, Jefferson, Ricardinho são uns poucos exemplos de jogadores que chegaram a Recife apenas para a reta final da competição nacional.

Com as inúmeras chegadas e saídas (a mais incrível de Rodrigo Grahl, que pediu pra sair, saiu; e depois pediu pra voltar, voltou; depois pediu pra sair outra vez, e saiu), o treinador tricolor teve dificuldades para encontrar o entrosamento de seu time. Dos 11 titulares que entraram em campo contra o Alecrim, na estreia, dia 17 de julho, apenas seis jogaram a partida decisiva diante os paraibanos.

Mesmo com as inúmeras dificuldades, Zé Teodoro mantinha a confiança em seu grupo de jogadores. E chegou a afirmar algumas vezes que seu time era de Série B (não sei se posso fazer propaganda do meu trabalho aqui no blog, mas se você colocar ‘Nosso time é de Série B Pedro Paulo Catonho’ no google, é possível ler pelo menos uma declaração do técnico sobre a capacidade de seu elenco).

Por falar em Zé Teodoro, deixo aqui meus parabéns ao técnico pela fidelidade ao projeto com o Santa. O cara teve propostas de equipes da Série B do Brasileirão após o primeiro semestre e seguiu em Recife.


TORCIDA DE PRIMEIRA

Dizem que o melhor sempre fica para o final. Então encerro este meu primeiro texto ao De Letra no Gol (espero que seja o primeiro de muitos) com a FANTÁSTICA torcida do Santa de 60 mil pessoas para um Santa Cruz x Treze, pela Quarta Divisão é sensacional!

Mas alguns podem dizer: “Ah, mas era decisão. Assim é fácil”. Então o que explica os 42.584 pagantes no jogo contra o Guarani-CE, válido pela empolgante segunda rodada da primeira fase? Em seis jogos no Mundão, o Santa Cruz teve um público de 243.057 torcedores, com média de 40.509 por jogo. A arrecadação total chegou a R$ 2.860.020,00, registrando uma média de R$ 476.670,00 por partida. Impressionante...

Sem contar as chamadas “invasões tricolores”. Em TODAS as partidas a torcida do Santa foi maioria. As diretorias do Alecrim, Guarani e Santa-RN, contando com a força da Nação Tricolor, transferiram seus jogos como mandantes contra o Santinha para João Pessoa-PB (apenas 120km de Recife) facilitando, assim, o deslocamento de Recife até a Paraíba.

Os pernambucanos apresentam a melhor média de público do Brasil, incluindo na comparação as gigantescas torcidas de Flamengo e Corinthians. Você já leu sobre a força da torcida no blog.

O técnico Zé Teodoro é bom? É, e muito! O time é de segunda mesmo? Não é pra tanto, mas conquistou o seu objetivo. O planejamento da diretoria foi o ideal, contratando e dispensando jogadores na mesma proporção em que Vanderlei Luxemburgo fala “projeto” (ou pôjeto) em suas entrevistas? Longe disso. Mas quem tem uma torcida fanática como essa do Santa Cruz, conquista o que quiser na marra! Há quem diga que em 2014, ano do centenário do clube, o Tricolor entra para ganhar o Brasileirão Série A. Pelo menos apoio não faltará. Com essa torcida, é melhor não duvidar de nada...

Agora deixa eu ir nessa, porque o carnaval fora de época em Recife começou e não tem hora para acabar!!!


Pedro Paulo Catonho, diretamente de Recife.

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